Quando me dispus a
escrever sobre gestão e direito tive como a principal razão os assuntos ligados
às empresas. Mas abrirei uma exceção para falar da vida, da família, dos
filhos... . Como alguns colegas sabem meu filho nasceu no dia 21 de maio,
precisamente as 18:38h com todos os cuidados que um bom pré natal requer: Ultrasons, ecografias, exames de sangue,
dopper e várias consultas e a terrível surpresa ao nascer: Trissomia do
Cromossomo Nove.
Como encarar uma
surpresa de tamanha envergadura, algo inesperado, algo que nos tira o chão, nos
deixa, literalmente, com as pernas bambas e perplexos com o caso. A alegria do
momento do parto dá lugar ao silêncio cinza, ao sorriso amarelo, o significado:
Algo deu errado! Como encarar uma síndrome que não se tem muitas informações,
apenas sintomas que nos levam a ideia que tal quadro é incompatível com a vida.
Ver seu filho escravo de um respirador, atrelado a uma bomba respiratória,
conectado a tubos, sondas, sentindo se incomodado com aquela parafernália de
equipamentos, causa nos pais uma dor que sufoca, que queima, que incomoda e nos
coloca a beira da loucura.
Nestas horas o
ceticismo perde muito espaço para a Fé, para a esperança, para uma busca
espiritual que explique o acontecido. Os pais travam uma guerra psicológica para
entender a razão de tudo isso: Se trata de um resgate do filho ou uma provação
dos pais? Confesso que não há remédio melhor que não seja esperar! Curtir,
mesmo que de forma reservada, pela condição de UTI, cada momento que temos em
contato com ele, tocando com carinho, interagido de forma delicada e
respeitando a limitação física que possui. Confesso que dói! Dói muito! Hoje
entendo, perfeitamente, os motivos que levaram Eric Clapton a gravar: Tears in
heaven: “...I must be strong and carry
on...”
Para que entendam um
pouco, dentre os “defeitos” genéticos temos alguns exemplos: Síndrome de Down
(mais comum), Síndrome Edwards, Síndrome de Patu, em fim, a Trissomia do
Cromossomo Nove é uma síndrome onde no nono par dos cromossomos há um
cromossomo extra, por isso do nome trissomia. Como não é comum, aliás, nada
comum, faz com que as perspectivas futuras, sejam incertas. Vemos nosso querido
e desejado filho lutando por centímetros cúbicos de oxigênio, respiração, por
respiração acompanhada por um único significado: Pai, estou aqui! O olhar,
quando nos presenteia, já nos passa um semblante de cansaço, de que algo já
está dando errado, um misto de incômodo e de despedida!
Confesso! Estou terrivelmente
ferido. Acredito que nenhuma ferida de guerra se compara com está ferida aberta
no peito de um Pai. Mas há uma cena que me comove, minha esposa, o carinho, a
cumplicidade do olhar com nosso filho. A fidelidade das visitas, sempre com
hora marcada no leito A, UTI número 1, Hospital Unimed Vale dos Sinos. Talvez
hoje com os meus 35 anos de vida, não tenha aprendido tanto como nesses últimos
dias, uma aprendizagem acelerada sobre alguns valores na vida que antes já eram
muito importantes e valorizados, mas agora sentidos, vividos, experimentados:
Gratidão àqueles que socorrem os feridos!
Por isso, em nome do
meu filho, e na condição de pais, agradecemos a todo o corpo clínico da UTI do
Hospital Unimed Vale dos Sinos, pelo zelo que foi além da obrigação
profissional, pelo carinho dispensado com uma criança tão diferente e que
constantemente foi chamada “carinhosamente” de LINDÃO. A todos vocês o nosso
muito OBRIGADO. Não se esqueçam de que essa gratidão levaremos para outras
vidas!
A Deus, apesar de
algo tão inesperado dolorido, não nos revoltamos, aceitamos tudo como um grande
aprendizado e felizes, pois conhecemos uma criança muito especial que com um
simples olhar nos passa um amor que será levado para além da vida! Que possamos
sempre dizer: “... Que seja feito a sua
vontade, assim na terra, como nos Céus...”.
Luciano Moraes, Pai
do Lucas Marchini Moraes